segunda-feira, 18 de maio de 2009

É preciso preservar


Que a tradição pernambucana é belíssima, isso não é novidade. Durante a apresentação do Cavalo-Marinho Boi Matuto, da Cidade Tabajara, em Olinda, uma figurinha chamou a atenção de todos os espectadores. Foi o pequeno Gabriel Salustiano de três anos.

O jovem é neto do Mestre Salu, um dos maiores nomes da cultura popular do Estado e um dos maiores incentivadores da preservação da tradição. O pequeno brincante, com certeza, herdou o dom do avô e já está envolvido com as manifestações culturais.

Hoje qualquer um pode fazer parte de um grupo de cavalo-marinho, mas nem sempre isso foi assim. Até pouco tempo atrás, os espectadores e turistas não podiam participar da apresentação. As mulheres também eram proibidas de participar do folguedo, dessa forma, cabia aos homens fazer os papéis femininos.

Maria de Fátima Rodrigues, a Nice do cavalo-marinho Estrela brilhante, como é mais conhecida por todos na cidade de Condado, na Zona da Mata Norte, foi uma das primeiras mulheres a integrar à brincadeira. “Sempre fui uma apaixonada pelo auto, mas só há uns seis anos eu pude quebrar a barreira que existia. Não é fácil romper com a tradição, mas hoje o toque feminino só vem a fortalecer ainda mais o reisado”, disse Nice, que ainda ressalta a importância da preservação do espetáculo, usado para formar cidadãos.

“Há mais ou menos cinco anos as crianças ficavam na rua sem ter o que fazer e consegui levá-las para a brincadeira. Quase ninguém aqui gostava muito do folguedo. As pessoas achavam chato e tinham vergonha de participar do cavalo-marinho, mas com a ajuda de alguns amigos eu pude provar que cada cultura tem suas particularidades e devemos ter orgulho daquilo que nos pertence, pois faz parte da nossa identidade”, disse Maria de Fátima.

As apresentações são indicadas para toda família. A professora Marleide Francelina Sales, 58 anos, sempre que pode, assiste aos espetáculos culturais junto com a neta Ana Beatriz Sales, de 6 anos. Para a educadora, Pernambuco é o estado com maior diversidade cultural do país e ter contato com as manifestações locais e difundi-las é um papel de todos, não apenas dos órgãos governamentais.

“Não devemos esperar pelo setor público para preservar o que é nosso. Se cada um fizer sua parte, o mínimo que seja, a cultura permanecerá viva. Por ser professora, sinto-me na obrigação de apresentar, de mostrar aos alunos as tradições pernambucanas, que não são poucas. A escola é o local de se transmitir conhecimento, mas o folclore e a cultura são pouco abordados pelas instituições de ensino”, lamenta Marileide.

Apesar das apresentações ocorrerem durante o período natalino, é possível ver o folguedo durante o ano inteiro. Mas, para Pedro Salustiano, responsável pelo Cavalo Marinho Boi Matuto, da Cidade Tabajara, em Olinda, as dificuldades encontradas pelos grupos para manter viva a tradição são muitas.

“O Governo vem ajudando alguns grupos, mas ainda é pouco. Falta patrocínio para irmos para outros estados, por exemplo. Mesmo assim sem incentivo vamos levando como dá. Embora muitas pessoas digam que o espetáculo vai acabar, não podemos deixar o show parar. O cavalo- marinho nunca morrerá’, disse Pedro.

Antes tarde do que nunca, parece que a brincadeira terá seu valor reconhecido por todos no país. O cavalo-marinho, junto com outras três manifestações pernambucanas, está prestes a ter sua preservação garantida.
A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) encaminhou a candidatura do folguedo ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão responsável pela nomeação como Patrimônio Imaterial. Com o título, o auto receberá mais incentivos governamentais e terá assegurada a sua divulgação e conservação.

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