segunda-feira, 18 de maio de 2009

Uma brincadeira chamada Cavalo Marinho


Tradição da Zona da Mata Norte de Pernambuco passa de geração em geração, quebrando barreiras e encantando espectadores


É preciso ter muito gingado e jogo de cintura para participar do cavalo - marinho, uma mistura de teatro de rua, música e dança. Surgido na Zona da Mata Norte de Pernambuco como uma forma de comemorar o nascimento do Menino Jesus, a brincadeira também pode ser encontrada no Agreste da Paraíba.

Não se sabe ao certo a data do surgimento do reisado. Existem várias versões sobre suas origens. A mais conhecida e aceita delas diz que teria sido originário a partir de festas religiosas trazidas pelos portugueses para o Brasil.
No espetáculo, podem ter em cena mais de 70 personagens, entretanto, os mais importantes são os irmãos negros Mateus e Bastião, Mestre Ambrósio, o Caboclo de Aruba, o Capitão, os Galantes e as Damas (uma espécie de elite) e o Boi.
O Banco, formado pelos músicos, também é essencial à apresentação. Com rabeca, pandeiro, reco-reco e ganzá (principais instrumentos usados) nas mãos, eles animam a festa com muita música e disposição. É preciso ter energia porque a brincadeira, na maioria das vezes, só para quando o dia raiar.

A história é a seguinte: Os espectadores formam um círculo onde ocorrerá o espetáculo. A música começa e Mateus e Bastião aparecem fazendo palhaçadas. Com uma bexiga, feita de testículo de boi seco, nas mãos, eles batem, constantemente, uns nos outros e nos inimigos.

Eles também usam o instrumento para marcar o ritmo da apresentação. No enredo, os irmãos são contratados pelo Capitão Marinho, que chega montado em seu cavalo para animar a festa na cidade. Vale ressaltar que a derivação do nome do folguedo vem exatamente dessa cena.

De acordo com o timbre do seu apito, o Capitão, por ser a autoridade local, comanda o andamento da dança. Durante a comemoração, também aparece Ambrósio, uma espécie de vendedor de figuras. Outros personagens vão aparecendo. Um dos pontos altos da apresentação é o momento da dança dos arcos, originária da festa de São Gonçalo.

Com roupas, chapéus e fitas coloridas, os dançarinos entrelaçam os arcos, formando um grande círculo: o círculo de louvação aos três Reis Magos. Como todo bom espetáculo, no cavalo-marinho, os participantes ensaiam, têm um roteiro pré- estabelecido, mas nem sempre é seguido.

Os “atores” convidam a platéia para participar do auto. Mesmo sem saber os passos muito bem, as pessoas acabam arriscando um passo aqui outro ali. Não tem como ficar parado. Depois de todas as confusões de Mateus e Bastião, das encenações e danças, chega um dos personagens mais esperados, o Boi.

O animal, responsável pelo desfecho da apresentação, representa a fartura. De acordo com a “classe social” dos integrantes, as partes mais nobres do boi dançante vão sendo distribuídas: “A língua vai para Cristina, o coração, vai para seu João. O rabo vai para Ricardo...”, e assim por diante. Depois do banquete, o boi se vai e junto com ele todos os personagens que encantaram toda a platéia.

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