quarta-feira, 28 de outubro de 2009

BUDISMO: MAIS QUE UMA RELIGIÃO, UMA FILOSOFIA DE VIDA


Em plena avenida beira-mar de Olinda, em Pernambuco, está situado o único templo budista Fo Guang Shan (uma das muitas filiais do monastério (matriz) localizado em Taiwan) do Norte-Nordeste. Mesmo estando em um local de grande circulação, muitas pessoas, até mesmo aquelas que moram na cidade, não sabem da existência do templo.

Ao entrar no lugar, já sente o clima de paz. O som dos mantras (músicas) e o cheiro suave dos incensos dão as boas-vindas. Aberto à visitação pública, o templo é visto por algumas pessoas como ponto turístico, mas, para a monja Miao Duo, o local representa muito mais do que isso. “Acima de tudo, é um espaço para conhecer os ensinamentos do Buda e ter um pouco de tranquilidade e paz de espírito”.

Agora, conceituar o que é o Budismo não é uma simples tarefa, porque até mesmo os próprios estudiosos apresentam visões diferentes. “Eu, em particular, acredito que se trate de uma religião, pois existe uma crença num ser supremo. Assim como os católicos, os seguidores do Buda têm um ser central no qual acreditam e louvam”, disse o teólogo Antenor Cordeiro.

Já o teólogo Roberto Amorim discorda dessa nomenclatura. “Compreendo como uma doutrina, uma vez que o objetivo principal do Budismo é levar a todos os ensinamentos deixados pelo Buda. Ele mesmo não se considerava um Deus, e sim uma pessoa destinada a ajudar os seus semelhantes a se libertarem de todo o mal e, dessa forma, chegarem à Terra Pura.” Diferenças à parte, uma coisa é certa. “Independentemente de qualquer crença, o importante é que o Budismo, seja lá como for conceituado, prega e incentiva a prática de boas ações para com os seus irmãos”, completa Amorim.

Um tema recorrente no budismo diz respeito à vida versus a morte. O mestre Hsing Yün, do monastério de Taiwan, diz, no seu livro “Quando morremos”, que o nascimento é como o começo de outra vida. “Nascer quer dizer apenas morrer. Se pudéssemos de fato entender a morte, veríamos que não é muito diferente de tirar um passaporte que nos permita atravessar outro país. É um caminho que todos nós devemos atravessar”.

Para a monja Miao Duo, quando uma pessoa morre, ela deixa para trás apenas a matéria do corpo. “A alma, que é a nossa essência, permanece viva”. Assim como os cristãos, os budistas também acreditam que as pessoas serão julgadas, depois da morte, pelos seus atos. Os seguidores do Buda crêem na existência do carma, atos positivos e/ou negativos praticados pelos seres humanos. “Essas ações determinam se vão renascer e em qual condição. Se um indivíduo espanca crianças, por exemplo, ele pode vir ao mundo sem as mãos, para poder ‘pagar’ pelo mal que cometeu”, explica a monja.

De acordo com o teólogo Antenor Cordeiro, um dos principais costumes dos budistas é não mexer no corpo até oito horas depois da morte do indivíduo. “É uma forma de garantir que a pessoa descanse em paz. Existe uma crença de que se alguém mexer no corpo durante esse período de tempo, o morto pode se chatear e até ficar com raiva, e assim, pode renascer como um animal, por exemplo, para se redimir dos maus pensamentos.”
ORIGENS
O Budismo surgiu na Índia há 2.500 anos. Tem sua origem atrelada ao nascimento do príncipe Sidarta Gotama, considerado o mestre do budismo, que pertencia à casta dos guerreiros (uma espécie de classe social). De acordo com o teólogo Antenor Cordeiro, existem várias lendas sobre o nascimento dele. “Uma delas diz que a mãe do garoto, a rainha Mahamaya, ou simplesmente Maya, tinha sonhado que um elefante de seis trompas tinha entrado no seu ventre. Era o anuncio da vinda do Iluminado. Alguns meses depois desse episódio, nascia o pequeno grande Buda”.

Algumas semanas depois, um sábio profetizou que o jovem tinha uma missão especial para cumprir na Terra e que ajudaria a guiar milhares de pessoas rumo à purificação da alma. Mas os pais de Sidarta (o Buda) não gostaram muito da notícia, afinal, ele seria o responsável em manter viva a linhagem e a tradição da família. Sendo assim, explica o teólogo Ricardo Amorim, os reis prepararam o casamento do jovem.
Na época ele tinha 16 anos. A família queria que ele tivesse filhos para manter a linhagem. Para não fugir do seu destino de rei, ele era proibido de ir além dos limites do palácio. Mas, aos 29 anos, resolveu conhecer outros locais. Sempre acostumado com a proteção, luxo e fartura, chocou-se com a dura realidade vivida pelas pessoas ditas comuns.

Então, resolveu ter uma vida simples, sem grandes mordomias. Foi para a floresta meditar e estudar a fim de compreender a essência da vida. Lá, teve quatro visões que o ajudaram a entendê-la. As três primeiras foram o sofrimento causado pela doença, envelhecimento e morte, respectivamente. A quarta foi uma visão de um homem que lhe revelou os meios de alcançar a paz interna e chegar à Iluminação. O Buda passou muitos anos até compreender a essência da vida que tanto buscava. Morreu aos 80 anos, mas deixou dezenas de ensinamento para os seus seguidores semearem mundo afora. “

Vale ressaltar que existem vários budas. O termo que significa iluminado e puro, nada mais é do que um título”, disse o teólogo Antenor Cordeiro.Depois da morte do Buda, a religião ultrapassou outras fronteiras além da índia. “De lá, espalhou-se para outros países agregando os costumes de cada local. Por isso, é possível encontrar várias ramificações do budismo mundo afora.
Mesmo com características distintas, todas elas se baseiam e acreditam plenamente nas Três Jóias (a crença no Buda, no Dharma, seus ensinamentos, e o Sangha, língua utilizada nas cerimônias)”, disse Roberto Amorim. Ainda segundo ele, o Budismo é dividido em duas grandes ramificações. “A primeira delas é a Theravada, linhagem ortodoxa e mais conservadora. A outra é a Mahayana, vertente mais liberal, aberta aos novos tempos, como incorporação de alguns costumes dos locais onde os templos estão situados”, explicou.

O Gerente de Suporte a Negócios (GSN) do Banco do Nordeste, Herbet Igor Lula, Agência São Luís Renascença, no Maranhão, é adepto do budismo Mahayano de Nitiren Daishonin, representado pela organização não-governamental, de origem japonesa, Brasil Soka Gakkai Internacional. Nessa ramificação, existe a crença de que o individuo não precisa se isolar da sociedade para se aprimorar como ser humano. “Assim, não temos a figura do monge isolado no templo e desprovido de desejos mundanos, nem culto às imagens também”, disse.
O primeiro contato do GSN com a religião oriental foi em 2003. “Venho de uma família tradicionalmente católica, mas eu não estava muito satisfeito com as práticas da Igreja de Roma. Encontrei no budismo a paz e a tranquilidade que tanto buscava.” A nova crença, explica Herbet, trouxe uma série de benefícios. “O principal deles ocorreu internamente, é o que chamamos de revolução humana: um processo contínuo de transformação e aprimoramento pessoal, promovendo uma cultura de paz que, no final, estende-se para toda a sociedade. Antes de tudo, é preciso reconhecer os próprios defeitos e tentar se colocar no lugar do outro.”

PRINCIPAIS FUNDAMENTOS DO BUDISMO
As Seis Perfeições (Caridade, Moralidade, Paciência, Perseverança, Meditação e Sabedoria) são algumas das características que as pessoas precisam ter para conseguir chegar à Terra Pura. Antes de morrer, o Buda deixou inúmeros ensinamentos para que os seres humanos pudessem acabassem com os sofrimentos, chegassem à Iluminação e, dessa forma, se livrassem do renascimento. Entre os passos a serem seguidos estão as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo:

As Quatro Nobres Verdades consistem em compreender as quatro causas do sofrimento:
1- A Verdade do Sofrimento: As pessoas estão sujeitas a vários tipos de sofrimentos. Os principais são nascer, envelhecer, adoecer e morrer.
2- A Verdade da Causa do Sofrimento: A ganância, a ignorância, o desejo carnal e o apego aos bens materiais são os principais responsáveis pelo sofrimento.
3- A Verdade da Cessação do Sofrimento: Só se libertando dos apegos e desejos será possível acabar com o sofrimento.
4- O Caminho que leva à Cessação do Sofrimento:

O Nobre Caminho Óctuplo é que pode levar as pessoas ao fim de todos os sofrimentos. Ele consiste em compreender as Quatro Nobres Verdades; ser bondoso e amoroso com os outros; não mentir ou caluniar; não roubar, matar ou colocar o desejo sexual acima de tudo; evitar trabalhos que prejudiquem outras pessoas; disciplinar-se para evitar pensamentos ruins; dominar as ações da mente, corpo e fala a fim de não cometer atos insanos; e ter sabedoria e serenidade para compreender as Quatro Nobres Verdades.

Nenhum comentário: